quarta-feira, 16 de abril de 2008




Poema: O homem, as viagens


O homem, bicho da Terra tão pequeno


chateia-se na Terra


lugar de muita miséria e pouca diversão,


Faz um foguete, uma cápsula, um módulo


toca para a Lua


desce cauteloso na Lua


pisa na Lua


planta bandeirola na Lua


experimenta a Lua


coloniza a Lua


civiliza a Lua


humaniza a Lua.


Lua humanizada: tão igual à Terra.


O homem chateia-se na Lua.


Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.


Elas obedecem, o homem desce em Marte


pisa em Marte


experimenta


coloniza


civiliza


humaniza Marte com engenho e arte.


Marte humanizado, que lugar quadrado.Vamos a outra parte?


Claro — diz o engenho


sofisticado e dócil.


Vamos a Vênus.


O homem põe o pé em Vênus,vê o visto — é isto?


idem


idem


idem.O homem funde a cuca se não for a Júpiter


proclamar justiça junto com injustiça


repetir a fossa


repetir o inquieto repetitório.


Outros planetas restam para outras colônias.


O espaço todo vira Terra-a-terra.


O homem chega ao Sol ou dá uma volta


só para tever?


Não-vê que ele inventa


roupa insiderável de viver no Sol.


Põe o pé e:mas que chato é o Sol, falso touro


espanhol domado.


Restam outros sistemas forado solar a col-onizar.


Ao acabarem todos


só resta ao homem(estará equipado?)


a dificílima dangerosíssima viagem


de si a si mesmo:pôr o pé no chão


do seu coração


experimentar


colonizar


civilizar


humanizar


o homem


descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas


a perene, insuspeitada alegriade con-viver.






Reflexão do grupo:


O poema foi escrito por Carlos Drummond de Andrade, um autor de uma geração distante da nossa, trata de um tema muito atual, a curiosidade humana de descobrir os mistérios do Universo.
O poema deixa claro em seu início a que ponto chegou a evolução tecnológica humana, possibilitando viagens a diversos planetas, experimentando, civilizando, colonizando e humanizando um por um.
É salientado no poema, que a necessidade de uma viagem mais importante que as realizadas por um ônibus espacial, que só seria percebida pelo homem após o término de toda a conquista espacial: a viagem a si mesmo, pois o universo da mente do homem é tão grandioso quanto qualquer grupo de sistemas solares.
Ele se pergunta se o homem estará preparado para essa profunda viagem, onde ele tentará encontrar seus limites e objetivos e o mais difícil de tudo, onde encontrar a felicidade de viver em paz e harmonia em detrimento de qualquer diferença.

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