quarta-feira, 23 de abril de 2008

Entrevist Susan Andrews estresse

ENTREVISTA COM SUSAN ANDREWS

“O estresse faz bem”

Ele aumenta a produtividade e fortalece o sistema imunológico, diz a biopsicóloga americana. O que torna as pessoas doentes é enfrentá-lo de modo errado

RENATA LEAL

Se o estresse é inevitável, relaxe e aproveite. Esse poderia ser o mantra da biopsicóloga Susan Andrews, uma das maiores especialistas em estresse no Brasil. Susan não conhece o assunto apenas em teoria. Embora viva numa comunidade auto-sustentável que ela própria fundou em Porangaba, no interior paulista, sua vida está longe de ser uma moleza. Além de coordenar as atividades da ecovila, onde vivem 18 moradores e trabalham 40 funcionários, ela dá 200 cursos e palestras por ano. Susan, que se mudou para o Brasil às vésperas da Eco 92, já transmitiu seus ensinamentos a executivos de empresas como Petrobrás, BNDES, Natura e 3M. Psicóloga e antropóloga pela Universidade Harvard, ela desenvolveu uma série de técnicas para aliviar a tensão e controlar os efeitos dos hormônios produzidos durante situações de desgaste psicológico, prejudiciais ao organismo. Ela costuma dizer que, para ser submetido ao estresse, basta estar vivo. Mas, ao contrário do que prega o senso comum, ele pode aumentar a produtividade e reforçar o sistema imune.

ÉPOCA - Como se pode evitar o estresse?
Susan Andrews - Não podemos e não devemos evitá-lo. Segundo os especialistas, ausência de estresse é morte. Cientistas na França fizeram experimentos com lagartas de borboletas, retirando cuidadosamente as camadas externas de seus casulos para ver se aceleravam o tempo até a borboleta emergir. Não só as borboletas não saíam mais rapidamente, como elas jamais saíam. Morriam todas! Eles se deram conta de que lutar para sair do casulo estimulava a secreção de certas enzimas no corpo da lagarta para finalmente torná-la uma borboleta. Sabe-se também que estudantes cujo organismo secreta mais adrenalina durante as provas obtêm melhores notas. Mas existe estresse bom e estresse ruim. O que se busca é o bom.

ÉPOCA - Como se pode transformar o estresse em algo favorável?
Susan - Segundo a neurociência, nossos estados emocionais são acompanhados por reações das moléculas de emoção: os neurotransmissores e os hormônios. Em cada célula do corpo há inúmeros receptores para essas substâncias. Numa situação de curto prazo, a adrenalina mobiliza a reação de lutar ou fugir. Ela gera uma disposição proativa, ajuda a mente a ganhar foco e reforça o sistema imune. O estresse se torna ruim quando é de longo prazo e sem pausa para recuperação. Ou quando a pessoa reage de forma hostil às situações. Nos dois casos, a adrenalina não é suficiente, e o corpo precisa secretar cortisol. Em excesso, ele é um veneno para o organismo. Enfraquece o sistema imune e causa a morte de células cerebrais. Está diretamente ligado à violência. Num estado de raiva, o corpo libera 40 vezes mais cortisol que o normal. Quem vive com altos níveis de cortisol tem cinco vezes mais chances de morrer precocemente.

ÉPOCA - É preciso ser uma pessoa zen para não reagir as emoções negativas?
Susan - Precisamos treinar para não alimentar essas emoções. O problema não é a causa do estresse - colegas de trabalho antipáticos, problemas em casa, falta de dinheiro -, mas a nossa reação a ela. Simplesmente recordar durante cinco minutos uma situação de raiva ou hostilidade pode causar a secreção excessiva de cortisol. Isso baixa o nosso sistema imune por seis horas.

ÉPOCA - E o que fazer para baixar as taxas de cortisol?
Susan - Há técnicas naturais que ajudam a manter as supra-renais sob controle, recondicionando-as para que não secretem esse hormônio em excesso.

ÉPOCA - O que é biopsicologia?
Susan - É um termo usado para identificar a medicina corpo-mente. Ela se baseia na idéia de que cada estado mental mobiliza uma enxurrada de moléculas de emoção. Por exemplo: para a raiva, o excesso de cortisol; para o amor, a ocitocina. Fazer terapia, apenas discutindo os problemas, muitas vezes não gera os resultados esperados, pois nosso corpo continua em pandemônio. Por isso, é importante trabalhar também o organismo. A idéia é nos tornarmos auto-suficientes, gerindo nossa própria saúde.

ÉPOCA- A mente é capaz de curar os males do corpo?
Susan - Claro! Foi feita uma pesquisa com 650 oncologistas no mundo todo, analisando quais eram os fatores-chave nos casos milagrosos de remissão de câncer. Desses médicos, 95% disseram que foi uma mudança de atitude para um estado de muita fé, determinação e otimismo em relação à cura. Quanto mais esperança, maior a chance de cura.

ÉPOCA - Além de ao estresse, o cortisol está relacionado a outros problemas?
Susan - Estudos recentes mostram que quase todas as pessoas deprimidas têm excesso de cortisol. Por isso, ensinamos técnicas práticas de biopsicologia para baixar o nível de cortisol de forma natural.

ÉPOCA - As pessoas mais espiritualizadas vivem melhor?
Susan - Quem acredita na unidade de toda a criação, que no fundo somos todos um, é mais feliz, mais saudável.

Entrevista da Revista Época, edição 404 - 13/02/06, com a psicóloga e antropóloga Susan Andrews, formada na Universidade de Harvard

Comentário:
Susan dá um excelente entrevista sobre o estresse, pois ensina a lidar com ele, utilizando-o de forma saudável. É claro que o estresse é extremamente prejudicial e muitas vezes inevitável, mas boas terapias alternativas como a ioga, uma vida saudável e feliz transforma o estresse em benéfico.

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